Autor do samba “Liberdade! Liberdade”, Vicentinho da Imperatriz é paciente do PADI

Publicado em 22/02/2020 - 10:28 | Atualizado
Vicentinho da Imperatriz é atendido em casa pela médica Guilhermina Galvão. Foto: Mariana Ramos / Prefeitura do RioVicentinho da Imperatriz é atendido em casa pela médica Guilhermina Galvão. Foto: Mariana Ramos / Prefeitura do Rio

Em Pitangueiras, na Ilha do Governador, sempre termina em samba a visita dos profissionais do Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso  (PADI Ilha), da Prefeitura do Rio de Janeiro. É lá que mora Vicente Venâncio da Conceição, o Vicentinho da Imperatriz, um dos compositores do antológico “Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós”, de 1989, considerado um dos mais belos sambas enredos da história do carnaval carioca. Diabético e com vários problemas associados, o sambista de 63 anos conta sempre com seus “anjos da saúde”, como chama os profissionais no samba que compôs especialmente para a equipe que o acompanha desde 2017.

Filho de um dos fundadores da Imperatriz Leopoldinense, também Vicente Venâncio, Vicentinho tem o coração verde e branco – cores, por sinal, escolhidas para a agremiação por seu pai. Na escola, foi diretor de ala, ritmista (tocou vários instrumentos), até chegar à ala dos compositores, em 1984. O samba antológico em parceria com Niltinho Tristeza, Preto Jóia e Jurandir foi composto pelo grupo na casa de Niltinho, entre “copos de cerveja e uma comidinha boa”, sempre preparada com capricho pela esposa do anfitrião.

Mas se para o “Liberdade! Liberdade!” Vicentinho contou com parceiros consagrados e um enredo histórico para transformar em música, para o “Samba do PADI” bastou a provocação de uma das profissionais de saúde para ele contar com música e poesia a importância da equipe do programa em sua vida. Boêmio incorrigível, Vicentinho herdou do pai não só o nome, o amor pela Imperatriz Leopoldinense e pelo samba, mas também a diabetes e uma das maiores complicações da doença crônica quando não tratada: ambos tiveram que amputar as duas pernas. E foi aí que o PADI entrou na história do sambista.

Vicentinho e a Doutora Guilhermina cantam música em homenagem à equipe do PADI. Foto: Mariana Ramos / Prefeitura do Rio
Vicentinho e a Doutora Guilhermina cantam música em homenagem à equipe do PADI. Foto: Mariana Ramos / Prefeitura do Rio

“Podem entrar / A equipe do PADI chegou / São os anjos da saúde / Dela cuidam com amor / Eles nos dão a receita da felicidade / Muitas doses de carinho, paz, amor e amizade / Comprimido de alegria cura até a depressão / E pomada de esperança massageia o coração”, diz parte da letra em homenagem à equipe que o assiste sempre em casa, formada por médico, enfermeira, técnica de enfermagem, nutricionista, fisioterapeuta, psicóloga e fonoaudióloga.

– Em 2018, o Vicentinho estava para baixo, depois de amputar a primeira perna, e a psicóloga da equipe sugeriu que voltasse a compor e fizesse um samba para nós. Ele disse que faria um samba para o PADI. Inicialmente não acreditamos, mas um dia nos chamou para mostrar a composição – conta a coordenadora do PADI Ilha, a médica Guilhermina Galvão, um dos “anjos da saúde” citados na letra do paciente sambista.

Depois de negligenciar por 30 anos os cuidados com a diabetes, Vicentinho hoje, além de ter passado pelas amputações das duas pernas, precisa se submeter a três sessões semanais de hemodiálise, além depender de cuidados para preservar a visão. Tudo é feito pelo SUS, incluindo a medicação. As visitas agendadas dos profissionais do PADI acontecem regularmente, mas sempre que Vicentinho precisa, os “anjos da saúde” estão disponíveis ao telefone para atendê-lo.

–A única coisa de que eu me arrependo na vida é de não ter cuidado da diabetes quando era novo. Fui deixando passar e, quando vi, a complicação já estava tão grande que perdi as pernas. Eu até pagava um plano de saúde, mas quando precisava fazer alguma coisa, algum exame, não tinha, aí eu deixava pra lá. E assim a diabetes foi indo. Hoje meu plano de saúde é o SUS e sou muito bem atendido – conta o compositor da Imperatriz Leopoldinense.

Sobre o Programa de Atenção Domiciliar ao Idoso (PADI)

Iniciativa pioneira no Brasil, o serviço do PADI é prestado aos portadores de doenças que necessitem de cuidados contínuos que possam ser feitos na residência, prioritariamente a pessoas com 60 anos ou mais de idade, mas também pacientes de outras faixas etárias. São pessoas com doenças crônicas agudizadas, portadores de incapacidade funcional provisória ou permanente, pacientes oriundos de internações prolongadas e/ou recorrentes, com dificuldade ou impossibilidade física de locomoção, pacientes em cuidados paliativos e outros agravos passíveis de recuperação funcional.

Em 2019, o PADI cuidou de 2.469 em toda a cidade, fez 70.986 visitas domiciliares e 174.689 procedimentos. Os principais benefícios dos pacientes sob cuidados dos profissionais do PADI são a aceleração da recuperação, a redução do tempo médio de internação hospitalar, a liberação dos leitos hospitalares para outros pacientes, a independência funcional, a melhora na capacidade de se cuidar e de ser cuidado no ambiente domiciliar.

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